O que é o fantasma na psicanalise lacaniana?

Definição geral

O fantasma, é uma estrutura psíquica que funciona como um roteiro inconsciente, da qual o sujeito organiza sua relação com o desejo e com o gozo.    

→ Ele é inconsciente, mas dirige nossas escolhas, afetos, sintomas e repetições.
→ É a resposta singular que cada sujeito dá à pergunta: “O que sou para o desejo do Outro?”

Entendendo a Formula do Fantasma

Lacan formaliza o fantasma como:

$$\frac{}{}$$

Na fórmula do fantasma, o que Lacan propõe é uma estrutura que simboliza a relação do sujeito com o desejo, mediada pelo objeto causa do desejo, que é o objeto a.

• O sujeito dividido (representado por $\bar{S}$ ou $\square$) indica que o sujeito nunca é pleno, está sempre incompleto, dividido por sua própria linguagem e pelo inconsciente.

• O objeto a (denotado por $a$) é aquilo que causa o desejo, um objeto faltante que nunca pode ser totalmente alcançado, mas que mobiliza o sujeito.

Como se forma o fantasma?

O fantasma surge a partir da relação primordial com o desejo do Outro (pais, cuidadores).

→ Diante da angústia de não saber o que é para o Outro, o sujeito constrói uma cena imaginária que responde:

"Eu sou isso que o Outro deseja (ou rejeita)".

Essa cena se fixa como um roteiro inconsciente, que orienta repetições sintomáticas e modos de gozar.

O fantasma não é apenas imaginação

Não confunda:
→ Não é uma fantasia consciente, mas uma estrutura inconsciente.
→ Mesmo quando o sujeito "imagina" algo, o que importa é a posição subjetiva que ocupa nessa cena.

Ex.: uma mulher que sempre se coloca na posição de ser abandonada: essa posição é sustentada por seu fantasma.

Funções do fantasma

Tampão da angústia
→ O fantasma protege o sujeito da angústia pura, ao oferecer uma resposta (mesmo sofrida) sobre o seu lugar no desejo do Outro.

Roteiro do desejo
→ O sujeito deseja através do seu fantasma: ele não deseja diretamente, mas sempre mediado por essa estrutura.

Fonte de repetição
→ O fantasma sustenta as repetições sintomáticas: sempre escolhemos “os mesmos tipos de relações” porque estamos presos ao nosso fantasma.

O fantasma e o sintoma

→ O fantasma está na base do sintoma, pois organiza o gozo envolvido na repetição.

→ Na análise, ao desarticular o fantasma, o sintoma também pode se transformar.

→ A clínica lacaniana não busca a "cura" no sentido médico, mas a assunção subjetiva do modo de gozar, ou sua reconfiguração.

O que se faz com o fantasma na análise?

Interpretação
→ A análise visa provocar a emergência do fantasma: que o sujeito perceba a cena que repete e sua posição nela.

Traversée du fantasme (Travessia do fantasma)
→ Meta avançada da análise:
→ O sujeito atravessa o fantasma quando descola-se dessa posição fixa, sustentada por ele.

→ Isso não significa “se livrar do fantasma”, mas não estar mais capturado por ele, podendo operar de modo mais livre em sua relação com o desejo e o gozo.

Como identificar o fantasma?

→ Pelas repetições no discurso.
→ Pelos afetos intensos: raiva, ciúme, angústia, vergonha.
→ Pela posição que sempre ocupa: vítima, salvador, traído, rejeitado, excluído etc.

Resumo final: o fantasma é…

→ A estrutura inconsciente que organiza o desejo e o gozo.
→ Uma resposta subjetiva à falta no Outro.
→ Um roteiro que o sujeito repete, sustentando sintomas e modos de se relacionar.
→ O alvo da interpretação e da travessia na análise.

Textos fontes sobre o conceito de Fantasma e seus elementos:

1. Lacan, Jacques — "O Seminário, Livro 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise" (1964)

2. Lacan, Jacques — "O Seminário, Livro 6: O Desejo e sua Interpretação" (1958-1959)

3. Lacan, Jacques — "O Seminário, Livro 10: A Angústia" (1962-1963)

4. Lacan, Jacques — "Escritos" (1966)

Leia nosso post sobre o Gozo: https://www.pauloriospsi.com.br/2025/06/o-gozo-e-o-gozar-na-psicanalise.html

Leia nosso post sobre o Inconsciente: https://www.pauloriospsi.com.br/2025/06/o-inconsciente-e-estruturado-como.html

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