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A perversão na psicanálise: mais do que um comportamento, uma posição diante da falta

 


Na linguagem comum, o termo “perversão” costuma estar associado a comportamentos sexuais considerados desviantes. Mas na psicanálise, especialmente na vertente lacaniana, a perversão não é definida por um ato, mas por uma estrutura clínica, ou seja, uma forma específica de o sujeito se posicionar diante da castração, do desejo e da falta.

A recusa da castração

Todo sujeito, ao se constituir, passa por um momento crucial: a entrada na linguagem e o reconhecimento de que não é tudo para o Outro. Esse reconhecimento é o que chamamos de castração simbólica — uma marca de que somos seres faltantes, de que há um limite ao nosso gozo.

O sujeito neurótico, por exemplo, sofre com essa castração. Ele gira em torno dela, fantasiando, culpando-se, evitando, desejando e temendo ao mesmo tempo.

O perverso, por outro lado, não aceita ocupar o lugar de sujeito castrado. Ele vê a castração — ele não é ingênuo — mas a recusa subjetivamente. Em vez de se posicionar como faltante, ele encena a castração no outro. Ele se faz o agente da castração, colocando o outro (parceiro, vítima, objeto) como castrado, enquanto mantém a fantasia de que ele próprio não o é.

Uma montagem teatral do desejo

Na estrutura perversa, o sujeito constrói uma verdadeira “montagem teatral”: uma cena em que o outro é colocado como objeto de gozo, castrado ou humilhado, enquanto o sujeito ocupa o lugar de quem dirige essa cena.

No fetichismo, por exemplo, o fetiche funciona como uma negação visível da castração — “Ela não está castrada, está aqui o sapato, o couro, o objeto que a completa”.
No sadismo, o sujeito impõe sofrimento ao outro como forma de administrar o gozo — ele goza ao mostrar ao outro que ele é castrado.
No masoquismo perverso, o sujeito oferece a si mesmo como objeto castrado para provocar o gozo do Outro — uma entrega encenada ao sofrimento para excitar o gozo alheio.

Essas cenas não são meras fantasias ou preferências — são formas estruturadas de lidar com a falta. O sujeito perverso não se vê como faltante, mas como o operador do desejo e do gozo do Outro.

E o outro na relação?

É comum surgir a dúvida: se o sádico, por exemplo, coloca o parceiro no lugar de objeto castrado, isso significa que o parceiro também é perverso?

Nem sempre. Em muitas situações, o parceiro pode ser neurótico, implicado inconscientemente numa relação que, mesmo dolorosa, responde a suas fantasias de submissão, amor ou reparação. Em outras, pode haver uma relação perversa simétrica, como entre um sádico e um masoquista perverso — onde a cena se fecha, e ambos retiram gozo da encenação da castração.

Por que isso importa na clínica?

Entender a estrutura perversa é essencial para que o psicanalista não se perca no julgamento moral ou na aparência dos atos. O que define a perversão não é o comportamento em si, mas a posição subjetiva diante da castração e do gozo.

O perverso não é alguém "sem limite" apenas. Ele é alguém que recusa o limite simbólico, e que constrói estratégias sofisticadas — muitas vezes dramáticas e cruéis — para se manter fora do campo da falta.

Na clínica, é preciso escutar essa posição com seriedade. O perverso não busca a cura no sentido clássico — ele não sofre como o neurótico sofre. Muitas vezes, é o outro, ao seu redor, quem sofre os efeitos do seu gozo. Ainda assim, ele pode vir à análise — e quando vem, é com o saber que a castração existe, mas não é para ele.

Conclusão

A estrutura perversa, na clínica psicanalítica, nos convida a ir além das aparências. Não se trata de julgar comportamentos ou classificar práticas, mas de escutar a posição subjetiva diante da falta, do desejo e do gozo. O perverso não ignora a castração — ele a vê, mas a recusa. E ao recusá-la, monta uma cena onde tenta dominar a falta no outro, escapando de sua própria.

Compreender essa lógica é essencial para o trabalho clínico. Permite ao analista sustentar a escuta mesmo diante de posições que causam estranhamento, mantendo-se fiel à ética da psicanálise: não dizer ao sujeito o que ele é, mas escutar como ele se sustenta em sua forma de gozar. A perversão, assim, não é um desvio moral, mas um modo estrutural de lidar com a falta — e, por isso, exige do analista escuta, leitura e posicionamento rigorosos.

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